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Cultura Organizacional e Propósito

Propósito corporativo abordado a partir da cultura organizacional onde encontra-se elementos que expressam a sua singularidade e contribuem para o desenvolvimento e a prosperidade da empresa e do meio do qual faz parte.

Conceitualmente, a cultura de um grupo é produto da necessidade humana por estabilidade, consistência e significado, formada por um padrão de suposições básicas (pressupostos compartilhados) que surgem a partir da experiência de aprendizagem acumulada e compartilhada, à medida que o grupo vai solucionando seus problemas de adaptação externa e integração interna. Quanto mais esse padrão funciona bem, mais ele vai sendo considerado válido a ponto de ser ensinado aos novatos como o modo correto de perceber, pensar e agir.


Esse ‘modo correto’ é o que produz os elementos comportamentais, emocionais e cognitivos do grupo.


Abordar propósito a partir da cultura organizacional baseia-se no acesso a esse padrão de suposições básicas e seus consequentes elementos comportamentais, emocionais e cognitivos a fim de encontrar os aspectos nos quais os membros da cultura se reconhecem e se sentem representados.


A razão para isso é que o desenvolvimento do propósito corporativo é um projeto que, necessariamente, irá esbarrar e requerer ajustes na cultura organizacional. Portanto, o propósito minerado a partir da cultura organizacional terá o mesmo DNA desta. Para Edgar Schein, pesquisador de grande referência em cultura e desenvolvimento organizacional, os ajustes na cultura organizacional que obterão sucesso, serão aqueles que compartilham o mesmo DNA.


A cultura organizacional se manifesta em três níveis: no primeiro nível, os artefatos, tudo o que se pode ver, ouvir ou sentir, são fáceis de se observar e difíceis de serem decifrados; no segundo nível, as crenças e valores assumidos, que são explicitamente articuladas para orientação normativa e moral; e no terceiro (e mais profundo), as suposições fundamentais básicas, ou seja, o sistema de crenças compartilhadas – que, da mesma forma que acontece com o indivíduo, podem ser conscientes ou inconscientes e, em geral, junto com a história, definem o indivíduo ou o grupo.


É nesse terceiro nível que encontramos os aspectos do propósito. Contudo, uma vez que trata-se de um nível delicado, face a sua suscetibilidade em gerar ansiedade e comportamentos defensivos, é preciso que alguns preceitos sejam seguidos.


(1) Profundidade. Para alcançar o nível onde se encontram as crenças ou suposições fundamentais de uma cultura organizacional, é preciso alcançar uma camada de informação que nem sempre é consciente ou acessível. Por isso deve-se utilizar algum método que proporcione esse acesso. Um desses métodos é a gamificação, pois com a criação do campo lúdico as máscaras e camadas defensivas do ego não se sustentam, permitindo que o participante se engaje no processo de reflexão e acesse pensamentos e sentimentos cada vez mais profundos, reais e consistentes.


(2) Representatividade. Para acessar as suposições fundamentais, ou pressupostos básicos, de uma cultura organizacional é preciso contar com a contribuição do máximo de pessoas possíveis que representem todos os setores, todos os níveis hierárquicos e diversos tempos de casa. Também são essas pessoas, ou representantes escolhidos por elas, que devem consolidar as informações, em forma de diálogos profundos e consentimento de todas.


(3) Singularidade. Toda cultura é única e irreplicável. Ao acessar as suposições fundamentais de uma cultura organizacional, busca-se encontrar os aspectos em que os membros do grupo se reconhecem, os aspectos que contam sua história e sua verdade. Quando os aspectos da singularidade de um grupo são encontrados, seus membros sentem-se confortáveis, pois reconhecem-se como pertencentes a eles.


(4) Valor. Como em um processo de mineração em que se buscam pedras preciosas, o acesso às suposições fundamentais de um grupo, seja uma empresa ou qualquer outro tipo de grupo, deve ter a intenção de trazer à tona o que há de especial, singular e valoroso naquele grupo, aqueles aspectos que geram valor interna e externamente ao grupo.


Quando esses quatro preceitos são seguidos, o propósito corporativo minerado a partir de sua cultura organizacional, surpreende até os fundadores da empresa pela profundidade e genuinidade.


Em uma das nossas empresas clientes, que tem 15 anos de existência e passou pelo processo de mineração e declaração de propósito, em que as falas dos sócios fundadores foram incluídas de forma igualitária como a dos demais colaboradores participantes da primeira fase. Ao término do projeto, quando apresentadas a declaração e a frase de propósito eles (os fundadores) se surpreenderam ao perceber que ali estava o resumo de suas vidas e dos seus valores.


PAPEL DA LIDERANÇA


É claro que para que haja sucesso na implementação de uma cultura voltada para o propósito, o papel do líder é fundamental. Pois a cultura estabelece os critérios da liderança, mas é a liderança a principal força motriz da mudança cultural.


Jean Pasteur, especialista em inteligência emocional, desenvolvimento de líderes e consultor Purpose Mining, considera essencial o envolvimento dos líderes na passagem do nível de maturidade 1 para o 2 (ver quadro de níveis de maturidade de uma cultura focada em propósito) no que diz respeito a trazer o propósito para a prática diária das atribuições de um líder. “Quando os líderes, em qualquer nível de liderança, compreendem o propósito corporativo e percebem a interligação deste com as atividades do seu dia a dia, tornam-se seus principais divulgadores e defensores”, diz Jean Pasteur.


O desenvolvimento de líderes alinhados ao propósito passa, principalmente, pelo aprendizado de praticar, de forma consciente, os mecanismos de fixação da cultura, tais como: a comunicação clara, aberta e direta sobre o propósito; a atenção diária e consistente à temas relacionados ao propósito; a inserção do propósito em pautas mesmo em incidentes críticos e crises organizacionais; a consideração do desenvolvimento do propósito na alocação de recursos, recompensas e status, bem como no recrutamento, seleção, promoção e demissão de funcionários.


DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL


O propósito corporativo é algo vivo e contínuo. Ele deve seguir a organização ao longo do seu desenvolvimento.


À frente da área de Pessoas e Cultura da MedSênior, uma empresa que já nasceu com seu propósito de promover o envelhecimento saudável, Luciana Lessa diz que “há 12 anos a MedSênior utiliza seu propósito como orientador de suas práticas que têm por objetivo mudar o modelo atual de saúde do idoso, olhando para a realidade destas pessoas e construindo o modelo de cuidado a partir das necessidades específicas deste público, e neste momento estamos empenhados em conectar o propósito da organização com o propósito de cada um dos colaboradores para que vivam uma jornada genuína, sem automatismos, contribuindo para uma cultura autentica, com uma verdadeira entrega humanizada".


O trabalho é para que todo o sistema organizacional seja impactado, uma vez que todos os aspectos da organização estão conectados, e quatro condições sejam satisfeitas: (i) alinhamento entre os valores e as crenças dos indivíduos (principalmente dos líderes) e suas palavras, ações e comportamentos; (ii) alinhamento entre os valores e crenças declarados pela organização e suas estruturas, políticas, procedimentos e incentivos; (iii) coerência entre os valores pessoais dos funcionários e os valores vividos na organização; (iv) afinidade entre o senso de propósito das pessoas e o propósito da organização ou, pelo menos, do papel que exercem ou das atividades que precisam realizar.


Para a Executive Coach & HR Advisor, Carla Gouveia, representante da Purpose Mining em Portugal, o desenvolvimento organizacional alinhado ao propósito é um exercício diário de congruência. Da sua experiência, ela defende que a congruência é uma competência que pode ser desenvolvida a partir da observação atenta ao alinhamento entre valores e ações, o que é fundamental para o desenvolvimento de uma cultura focada em propósito.


DA CULTURA PARA O INDIVÍDUO


É preciso elucidar que, quando se começa um trabalho de propósito dentro de uma cultura organizacional, as pessoas vão sendo tocadas pelo tema propósito – mesmo quando a abordagem individual não é trabalhada durante o projeto.


Propósito é a expressão da singularidade de um ser ao se desenvolver e prosperar ao mesmo tempo que contribui para o todo. Dessa forma, é comum que os colaboradores comecem a buscar essa singularidade, a questionar como (e se!!!) sua singularidade está se manifestando e, principalmente, se está servindo ao desenvolvimento e à prosperidade individual e coletiva.


Isso quer dizer que, em projetos de mineração e declaração de propósito, é muito comum pessoas se conectarem às suas potencialidades e despertarem para uma nova forma de estar na empresa e em sua vida. Também acontece de pessoas perceberem que podem melhor expressar sua singularidade de outras formas, às vezes até fora da empresa.


Em fim, ao abordar o propósito corporativo a partir da cultura organizacional, torna-se possível quando são identificados os elementos que expressam a singularidade da empresa e que contribuem para o seu desenvolvimento e prosperidade, ao mesmo tempo que impacta positivamente o meio que faz parte. A mineração das suposições fundamentais e a compreensão dos elementos comportamentais, emocionais e cognitivos presentes na cultura são fundamentais para descobrir o propósito autêntico e genuíno da organização. Para alcançar essa profundidade, é essencial seguir preceitos como a utilização de métodos que proporcionem acesso às camadas mais profundas da informação, a inclusão de representantes de todos os setores e níveis hierárquicos, a valorização da singularidade da cultura e a busca pelo que é valoroso e único. Além disso, o papel da liderança é crucial na implementação de uma cultura orientada pelo propósito, pois ela estabelece os critérios e impulsiona a mudança cultural.


O desenvolvimento organizacional alinhado ao propósito é um exercício contínuo de congruência, que requer a coerência entre valores, ações e estruturas organizacionais. Ao iniciar um trabalho de propósito dentro de uma cultura organizacional, as pessoas são tocadas pelo tema, despertando para uma nova forma de estar na empresa e em suas vidas, buscando manifestar sua singularidade de maneira que contribua para o desenvolvimento e a prosperidade individual e coletiva. Portanto, ao mergulhar na cultura organizacional, explorar sua singularidade e conectar-se ao propósito, as empresas podem desencadear transformações profundas e autênticas, encontrando um caminho para o sucesso sustentável e significativo, além de contribuir para um mundo com mais propósito.


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